quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

Teus olhos (Cabrião)

 

Por uns olhos vesgos, vesgos

Trago eu vesgo o coração,

De tanto pedir-lhe amores

E elles a dizer que – não.


Teus olhos são phosph'ros

Que lanção scentelhas,

Que abrazão minh'alma;

Se o riscas de leve

No meu coração,

Lá foge-me a calma.


Teus olhos teem fogo

Teem luz das estrellas

E brilho sem pár;

São vesgos, que importa!

Eu gosto de os ver

As vezes brigar!


Teus negros olhinhos

As vezes são mansos,

As vezes travessos,

Revolvem-se todos,

Escondem as iris,

E ficão avessos.


Então digo eu

E' noite completa,

Sumio-se o meu sól!

Eis que de repente

A volta annuncia

Um lindo arreból.


Lá surge da orbita

Por entre pestanas

Um foco de luz;

Saúdo essa aurora

Que em seu horizonte

Tão meiga reluz!


E qual meteóro

Que brilha um momento,

Tambem se sumio;

As cores luzentes

De novo perdendo

Só o branco se vio!


Teus olhos são phosph'ros

Que lanção scentelhas,

Que abrazão minh'alma;

Se o riscas de leve

No meu coração

Lá foge-me a calma.


===================

Lytotypo de H. Schroeder.


Fonte: Cabrião: semanário humorístico editado por Ângelo Agostini, Américo de Campos e Antônio Manoel dos Reis: 1866-1867. Ed. fac-similar/introdução de Délio Freire dos Santos. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado: Arquivo do Estado, 1982, p. 127.


Reprodução fac-similar do original de 51 fascículos, publicado em São Paulo no período de 30 de setembro de 1866 a 29 de setembro de 1867.

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