Por uns olhos vesgos, vesgos
Trago eu vesgo o coração,
De tanto pedir-lhe amores
E elles a dizer que – não.
Teus olhos são phosph'ros
Que lanção scentelhas,
Que abrazão minh'alma;
Se o riscas de leve
No meu coração,
Lá foge-me a calma.
Teus olhos teem fogo
Teem luz das estrellas
E brilho sem pár;
São vesgos, que importa!
Eu gosto de os ver
As vezes brigar!
Teus negros olhinhos
As vezes são mansos,
As vezes travessos,
Revolvem-se todos,
Escondem as iris,
E ficão avessos.
Então digo eu
E' noite completa,
Sumio-se o meu sól!
Eis que de repente
A volta annuncia
Um lindo arreból.
Lá surge da orbita
Por entre pestanas
Um foco de luz;
Saúdo essa aurora
Que em seu horizonte
Tão meiga reluz!
E qual meteóro
Que brilha um momento,
Tambem se sumio;
As cores luzentes
De novo perdendo
Só o branco se vio!
Teus olhos são phosph'ros
Que lanção scentelhas,
Que abrazão minh'alma;
Se o riscas de leve
No meu coração
Lá foge-me a calma.
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Lytotypo de H. Schroeder.
Fonte: Cabrião: semanário humorístico editado por Ângelo Agostini, Américo de Campos e Antônio Manoel dos Reis: 1866-1867. Ed. fac-similar/introdução de Délio Freire dos Santos. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado: Arquivo do Estado, 1982, p. 127.
Reprodução fac-similar do original de 51 fascículos, publicado em São Paulo no período de 30 de setembro de 1866 a 29 de setembro de 1867.
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