segunda-feira, 14 de março de 2022

Viagem a Bagé (Diário de Cecília, 1927)


Domingo, 4 de setembro


Levantei-me cedo, apesar de estar com dor de garganta e bem ameaçada de gripe. Fui me despedir dos cordeiros, da Uruguaia e dos outros doentes. A Lídia já estava entregue, não ia se levantar.


Embarcamos no Dodge do Müller, com o próprio Müller de chofer. O Dodge, apesar de ser o maior auto de Melo, ficou pequeno para nós e nossa bagagem. Ainda por cima a Conceição mandou treze chapéus, de Montevidéu, para a Carolinha passar de contrabando. A dona Faustina embarcou acompanhada de belo galo White Wyandote, da Estância Nova. Eu resolvi trazer meus bichos de seda.


Almoçamos na pitoresca tapera onde nasceu Gaspar Silveira Martins. Fizemos justiça, no histórico lugar, aos bons pastéis que a Maninha havia preparado para o nosso fiambre.


O Washington Luís talvez não soubesse que o Silveira Martins era nascido no Uruguai. Seria bem capaz de negar-lhe o direito de ter sido cidadão brasileiro...


Na fronteira passamos bem pelos guardas castelhanos e brasileiros. Nada foi examinado. Era domingo, as repartições estavam fechadas. A dona Faustina disse que de agora em diante só vai viajar nos domingos.


Eu estava voltando para o Rio Grande, depois de três anos e uma semana de exílio. Quando vi, estava chorando feito boba. Não sei porque, pois não me sentia nem triste nem alegre na ocasião.


Passamos o rio Negro de balsa.


Chegamos a Bagé às 5 da tarde, tendo saído de Melo às 10 da manhã.




Fonte: Assis Brasil, Cecília. Diário de Cecília Assis Brasil, org. por Carlos Reverbel. Porto Alegre, L&PM, 1983, p. 154/155.


Capa: L&PM Editores sobre foto do Castelo de Pedras Altas, Rio Grande do Sul.

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