O período do Cid [Pinheiro Cabral] e do Foguinho [Oswaldo Azzarini Rolla], contrapostos, foi extraordinário. Eram duas pessoas que se odiavam, do ponto de vista profissional. O Foguinho, sendo técnico do Grêmio, vitorioso naquele período de fins de 1950 e início de 1960, e o Cid desesperado do outro lado, o principal cronista da cidade, colorado, bem identificado, e então, tudo que ele podia jogar contra o Foguinho ele jogava.
E o Foguinho odiava e dava resposta.
Lembro-me de uma ocasião em que o técnico do Internacional era o capitão Cunha, e o Cid resolveu, através de sua coluna no Correio do Povo, influenciar o Cunha na escalação do time. Cid sugeriu que o Larry fosse colocado no meio-de-campo, dando lugar ao Diogo como centroavante.
Saí da rádio, fui até a Rua da Praia e encontrei o Foguinho. Primeira coisa que fiz foi convidá-lo para tomar um cafezinho. Estávamos no café conversando e, lá pelas tantas, deixei escapar que o Larry estaria no meio-de-campo. Foguinho, em seguida, falou:
“Isso é ideia daquele homem, o Cid Pinheiro Cabral. E lhe digo mais, seu Osterrrmann, escreva-se e publique-se: se o Internacional jogar com o Larry no meio-de-campo, o Grêmio fará cinco gols. O senhorrr escreva, anote”.
No outro dia, encontrei-me com Cid e perguntei se seu artigo estava pronto. Ele respondeu que sim e mostrou-me o artigo. Aliás, o Cid escrevia 20 vezes, cortava folhas e coisas assim. Na verdade, só o Ivo Corrêia Pires fazia mais remendos em papel que o Cid. Então eu falei:
- Olha, Cid, eu já tenho a entrevista resposta do Foguinho e ele disse que o Internacional vai levar cinco gols.
- Pois eu quero ver! Vamos publicar a minha coluna e a entrevista dele.
Resultado do jogo: Grêmio 5 X 2 Internacional.
Na segunda-feira, fui até a alfaiataria do seu Rolla, que ficava no prédio da Loja Krahe. Na alfaiataria não existia luz elétrica. Então eu disse para ele:
- Pô, seu Rolla, o senhor é pão-duro, nem luz o senhor põe aqui.
- Não senhorrr!… É que daí eu sei quando é noite.
- Seu Rolla, essa história de publicar o artigo do Cid e a sua entrevista ao mesmo tempo me criou um enorme problema.
- Não, senhorrr!… Quem criou o problema foi o seu amigo…
Fonte: Coiro, José/Grabauska, Cléber. Sala de redação: a divina comédia do futebol. Porto Alegre: L&PM, 1998, p. 102/103.
Capa: Ivan Pinheiro Machado sobre ilustração de Edgar Vasques
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