- Mas, Belmonte, e o Sant’Ana quando fuma em pleno estúdio, na hora do Sala, o que tu fazes?
- Acontece, Coiro, que o Sant’Ana é o dono do programa.
A propósito, vou contar uma história. O Ranzolin me disse que quem mandava no programa era eu. Caso o Sant’Ana acendesse um cigarro, eu deveria usar de autoridade e mandá-lo apagar o maldito cigarro. Fiz isso por seis meses. Ele acendia e eu reclamava no ar. Até que chegou num ponto em que eu desisti, enchi o saco e larguei de mão.
Para que tenhas uma dimensão exata do assunto, lembro-me de que o Flávio Alcaraz Gomes, na época diretor da Rádio Gaúcha, tinha um programa às 7h30min da manhã. Sant’Ana fazia intervenções via telefone, todas as manhãs. Não sei qual a razão, mas numa determinada manhã ele resolveu fazer o programa no estúdio, ao vivo.
Sentou-se ao lado do Flávio e acendeu um cigarro. Flávio esperou que Sant’Ana descansasse o cigarro no cinzeiro e, ato contínuo, esmagou-o no fundo do cinzeiro. Sant’Ana não mexeu um músculo da face, ficou aparentemente sereno e acendeu outro cigarro, deu duas tragadas e colocou-o na borda do cinzeiro.
Quando Flávio fez menção de agarrar o cigarro para apagá-lo, Sant’Ana, bem mais rápido, pegou o cigarro e o apagou diretamente no peito do Flávio. Flávio ficou cristalizado, estupefato com a atitude agressiva do colega. Sempre olhando para a cara de Flávio, Sant’Ana levantou-se e abandonou o estúdio sem participar do programa.
Fonte: Coiro, José/Grabauska, Cléber. Sala de redação: a divina comédia do futebol. Porto Alegre: L&PM, 1998, p. 175.
Capa: Ivan Pinheiro Machado sobre ilustração de Edgar Vasques
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