terça-feira, 11 de outubro de 2022

Radicados (Carlos Reverbel)


Antes de nossa organização administrativa, incursões bandeirantes abriram caminhos aos nossos destinos luso-brasileiros.


Vieram depois os lagunistas, de cuja cepa brotaria Rafael Pinto Bandeira, o primeiro caudilho rio-grandense.


Além de portugueses, a corporação de Silva Pais, que se estabeleceu em Rio Grande, como comandância militar, dando início, em 1737, ao processo de nossa institucionalização político-administrativa, trazia fluminenses, paulistas, baianos, pernambucanos, etc.


O financista, mais do que isso, o estadista da República Rio-Grandense foi o mineiro Domingos José de Almeida, fundador de Uruguaiana e fecundador de Pelotas. Um outro mineiro, Ulhoa Cintra, também figurou entre os melhores homens de 35.


Com Bento Manuel, São Paulo contribuiu com um general que mudava de trincheira mas não mudava de bravura, terminando por fundar uma estirpe rio-grandense do maior relevo.


Por sua vez, o baiano Ângelo Dourado não se limitou a deixar o depoimento mais impressionante sobre 93, tendo destacada participação nos acontecimentos, como herói da coluna de Gumercindo Saraiva.


Vejo na figura de Pinheiro Machado o protótipo do machismo dito rio-grandense. Não sei de ninguém de nossos pagos que tenha sido mais representativo a esse respeito. Pois muito bem: Pinheiro Machado era filho de paulistas.


Francisco Antônio Vieira Caldas Júnior, fundador do jornalismo moderno no Rio Grande, era de sangue sergipano, deixando-nos, entretanto, com o seu legado, um exemplo das melhores qualidades atribuídas à nossa gente.


Se A. A. Borges de Medeiros foi um déspota, como era insultado pelos adversários políticos, no auge das retaliações que se estenderam aos entreveros de 23, não há de ser por isso que poderia incriminar seu pai, um ilustre desembargador pernambucano…


Por outro lado, o ramo rio-grandense da família Aranha não teria existido se o velho Euclides tivesse permanecido em Campinas, desistindo de transferir-se para as barrancas do Uruguai.


É bem provável que sem esse deslocamento, uma mudança de domicílio que fez com que um menino chamado Osvaldo nascesse em Alegrete, não contássemos hoje com as glórias de Itararé, a maior batalha da América do Sul, que por sinal não houve.


Aliás, o mundo não ouviu a nossa mensagem, no sentido de que, se as grandes batalhas não tivessem acontecido, a humanidade seria bem melhor…


Mais recentemente, quando perdemos o cearense José Fernando Carneiro, foi-se com o notável médico e humanista um pedaço do Rio Grande, mutilando-se, talvez, a forma de coração do nosso mapa, segundo Augusto Meyer, autor da metáfora.


Pouco antes, havíamos sofrido uma perda que somente os moradores de Lavras do Sul podem avaliar, no vazio ali deixado pela generosidade franciscana do homem dos “ãos” – o baiano João Aragão Bulcão.


Por ter sido a província de mais nova extração, coisa de 200 anos a menos, o Rio Grande recebeu uma contribuição maior de outras partes do território nacional, cujo passado histórico nos proporcionou, no dizer do excelso estilista Moysés Vellinho, “a mesma substância política, o mesmo sangue, o mesmo legado cultural, as mesmas raízes”.


Capa: Tânia Porcher

Foto: Jorge Rolla



Fonte: Velhos e novos “baianos”. Reverbel, Carlos. Barco de papel. Porto Alegre: Editora Globo S.A., 1978, p. 170/172.

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