segunda-feira, 19 de junho de 2023

Nada somos (Ricardo Reis)

 


Nada fica de nada. Nada somos.

Um pouco ao sol e ao ar nos atrasamos

Da irrespirável treva que nos pese

Da húmida terra imposta,

Cadáveres adiados que procriam.

Leis feitas, státuas altas, odes findas -

Tudo tem cova sua. Se nós, carnes

A que um íntimo sol dá sangue, temos

Poente, por que não elas?

Somos contos contando contos, nada.

28-9-1932


Capa: Marcellin Talbot

Fonte: Pessoa, Fernando. Poesia de Ricardo Reis. Coleção a obra-prima de cada autor (250). São Paulo: Editora Martin Claret, 2006, p. 128/129.

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