Nada fica de nada. Nada somos.
Um pouco ao sol e ao ar nos atrasamos
Da irrespirável treva que nos pese
Da húmida terra imposta,
Cadáveres adiados que procriam.
Leis feitas, státuas altas, odes findas -
Tudo tem cova sua. Se nós, carnes
A que um íntimo sol dá sangue, temos
Poente, por que não elas?
Somos contos contando contos, nada.
28-9-1932
Capa: Marcellin Talbot
Fonte: Pessoa, Fernando. Poesia de Ricardo Reis. Coleção a obra-prima de cada autor (250). São Paulo: Editora Martin Claret, 2006, p. 128/129.
Nenhum comentário:
Postar um comentário