O financiamento para compra de casas, naquela época, não passava de uma dádiva ao contemplado e de uma espoliação da comunidade. Apesar da então injustiçada Tabela Price, considerada uma iniquidade, recebia-se o imóvel praticamente de mão beijada. E bastava contar-se com um bom “padrinho”, como foi o meu caso, para que a casa aparecesse, num passe de mágica.
Como a inflação começasse a disparar e não havendo correção monetária, bem antes de terminar de pagá-la já a conta da luz, a tarifa do telefone, os préstimos da cozinheira, a diária do jardineiro, a faxineira, tudo custava mais caro que a irrisória prestação mensal da casa, estática nos seus minguados 3 cruzeiros e 50 centavos, o valor atual de um picolé.
Era uma distorção que não poderia continuar. Mas vieram os tecnocratas, com sua vocação de saúva e seu apetite de saúva, logo inventando um sistema para aquisição de casa própria, em que quanto mais se paga, mais se fica devendo. Do 8 estradularam para o 800, sem as amenidades do Paulo Gracindo.
Há muitos anos, no tempo das histórias da carochinha, quando os animais falavam, havendo papagaios tão eloquentes quanto o Conselheiro Rui Barbosa, colocava-se a salvação nacional estaqueada nas pontas do seguinte dilema: ou o Brasil acaba com a saúva ou a saúva acaba com o Brasil.
Não acabou a saúva e, muito menos, o Brasil. Com base neste ilustrativo antecedente histórico, há fundadas esperanças de que o Brasil continue, apesar dos tecnocratas.
Aos que acaso ainda tenha dúvidas, a esse respeito, recomendo a leitura de um livro de Álvaro Moreira, cujo título, bem como o respectivo conteúdo, garantem que O Brasil continua, mesmo porque talvez seja o único país imortal já produzido pelo Arquiteto do Universo.
Capa: Tânia Porcher
Foto: Jorge Rolla
Fonte: Reverbel, Carlos. Barco de papel. Porto Alegre: Editora Globo S.A., 1978, p 70/71.
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