segunda-feira, 10 de julho de 2023

Metrópoles (Carlos Reverbel)

 

Quando as cidades crescem e não se civilizam, na mesma medida, não se pode deixar de redobrar os dispositivos de vigilância, prevenção e, em última instância, os de natureza coercitiva. Se existe um exército de contraventores em Porto Alegre, inclusive os que agridem a comunidade com os canos de descarga de seus carros, não há de ser com sermões franciscanos, nem com sessões afro-brasileiras de cafuné que conseguirá contê-los.

Percorrendo os subúrbios de Londres, numa tarde domingueira, no verão de 1975, era como se eu andasse pela velha Rua da Varzinha, na década de 30: cadeiras na calçada, as pessoas lagarteavam ao sol, desfrutando de uma tranquilidade que, hoje em dia, entre nós, talvez só exista nos arredores de Anta Gorda, Muçum ou Faxinal do Soturno.

Um processo metropolitano como o nosso, que se expande e impõe na medida de sua desumanização, massacrando o homem, em lugar de preservá-lo das agressões que o cercam e atropelam, não pode deixar de ser repudiado, aos urros, mesmo que se tenha de apelar para o leão da Metro, na falta de urros mais ortodoxos e convincentes.

Para aceitar semelhante processo, de coração aberto e sorriso nos lábios, seria preciso a capacidade de sofrimento e a resignação da digníssima senhora que desempenha o papel de mãe no célebre soneto de Coelho Neto, desdobrando fibra por fibra o coração.




Capa: Tânia Porcher

Foto: Jorge Rolla

Fonte: Reverbel, Carlos. Barco de papel. Porto Alegre: Editora Globo S.A., 1978, p 50.

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